Eram cerca de três da manhã num dos bairros mais pobres de Detroit. E, apesar da hora, o silêncio habitual era agora interrompido por vidros a partirem-se violentamente. A causa disto eram dois adolescentes. Tyler e Dylan. Ambos passeavam pelas ruas do bairro, com um taco de basebol na mão. Tyler era um jovem típico americano. Alto, um pouco magro e com cabelo liso e castanho. Vestia o seu uniforme escolar, de forma desleixada. Dylan Katsumoto por sua vez, possuía alguns traços japoneses. Com cabelo castanho e espetado e com o mesmo uniforme que Tyler Jackson. Eram autênticos vagabundos da noite. E faziam das ruas, o seu parque de diversões. O rapaz de origem japonesa partia os faróis de cada carro por onde passava enquanto Jackson, discutia o assunto mais interessante para um jovem de 17 anos. Miúdas.

Então e a Ashley? - perguntava Tyler, enquanto caminhava de forma relaxada, com as mãos nos bolsos.
A resposta foi um pouco pensada. Mas não demorou muito a ser dita. - Um nove..

Um nove? Foda-se Jap. Tens de ser mais rigoroso... A Ashley é no máximo um... hun? - um carro completamente negro virava a esquina, ficando de frente para os rapazes. Ambos pararam e encararam o carro. Não era normal um carro daqueles andar pelas ruas de Detroit. O veículo continuava em movimento, acelerando cada vez mais.

Tyler, acho melhor bazarmos. - disse Dylan, duvidoso em relação ao carro.

Relaxa Jap.. - Tyler continuava relaxado, preparando os punhos para uma luta. Recomeçava a caminhar na direcção do automóvel preto. Dylan acompanhava o parceiro quando o veículo começa a acelerar de uma forma imensa.

Merda! TYLER!! - o carro avançava bastante, ganhando terreno sobre os dois. Tyler não teve muito tempo para reagir, sendo atingido pela frente do carro. Dylan por sua vez, tenta desviar-se para o lado, mas é apanhado pelo carro nas pernas, caíndo.

Merda, merda, merda! - Katsumoto estava no chão, sem conseguir mover as pernas enquanto olhava para Tyler, bastante nervoso.- Tyler!! - mas era inútil, o seu amigo parecia estar inconsciente. Estava imóvel, no chão, e com uma grande mancha de sangue na nuca.

O carro finalmente parou. Um pouco à frente de Dylan. De lá saiu um senhor completamente fardado, com um fato preto puro e com óculos espelhados. O homem olhou para Dylan de cima com um ar neutro e sério e não disse nada. Absolutamente nada. Parecia não ter emoções, ao contrário de Jap que estava furioso. Rangia os dentes e agarrava as pernas, devido à dor.

Filho da puta! - finalmente, o pé do misterioso homem pisoteou Dylan, pondo-o inconsciente.

Finalmente acordado, sentiu um cheiro pouco característico. Sons metálicos e tudo escuro. Mal se via. Muito menos acabado de acordar.

Hun? - Dylan tentava observar o que o rodeava contudo, sem êxito. E quando se tentou mexer, algo o bloqueou. Estava preso. Os seus braços e peito estavam amarrados à "cama" onde estava. Foi ai que se lembrou de tudo o que tinha acontecido. Pensou em gritar, mas rapidamente percebeu que era incrivelmente estúpido. O mais provável era ter sido raptado. E chamar os seus raptores não era boa ideia.

Dylan já tinha passado por muito na sua vida. Desde noites na esquadra a confrontos entre gangues. Mas nada se assemelhava à sensação de não saber onde estava. Muito menos depois de ter sido raptado.

Primeiro de tudo, teria de se soltar. Observou com mais atenção. Estava preso por uma espécie de cinto de cabedal. Procurou algo que pudesse cortar. E finalmente encontrou. Numa bancada com rodas por baixo encontrou uma série de equipamentos médicos, entre os quais um bisturi. Com as pernas também presas, puxou a bancada para perto da mão direita. Faltava a parte mais fácil, cortar o que o prendia. Assim o fez. Com a mão contorcida começava a cortar. No entanto, algo o interrompeu.

Uma porta a abrir-se. E com esta mais luz entrou na sala. Dylan escondeu o bisturi por debaixo de si e rapidamente pôs-se imóvel, fingindo estar ainda inconsciente. Adrenalina era bombeada pelo sangue com cada batimento do coração. Estes aumentavam cada vez mais e suor escorria pela testa do jovem.

Era possível ouvir-se passos. Que pareciam aproximar-se cada vez mais. E com isto, aumentavam também os batimentos cardíacos de Katsumoto. Finalmente pararam. E se a sua audição não o enganava. O homem estava mesmo ao seu lado.

Dylan tinha de fazer algo. Se queria escapar de lá precisaria da sua oportunidade de ouro. E era esta sem dúvida. Não iria acobardar-se agora depois de tudo o que já tinha feito na vida. Agiu.

O homem caiu no chão, imóvel. A cabeçada de Dylan tinha acertado um pouco a cima da cana do nariz. E foi fatal. Agora era esperar que mais ninguém aparecesse. Pelo menos enquanto Dylan se preparava. O jovem decidiu vestir a roupa do homem. Talvez isso permitisse uma fuga mais discreta. Começou a despi-lo e, quando retirava o smoking, viu algo. Uma arma. Olhou para ela bastante sério. Era uma Glock. Glock 26 de 9 milímetros. Uma arma mortal. Foi nesse exacto momento que Dylan compreendeu a seriedade do assunto em que estava metido. Mas se queria sair de lá com vida precisava de manter-se sereno.

Aí lembrou-se de uma velha frase de um sábio amigo: "Nunca agarres numa arma sem a intenção de matar.". Uma frase algo irónica tendo em conta o fim desse seu amigo.

O que é que faço, Delsin? - perguntou ao seu falecido amigo, baixo o suficiente para ser impossível de ouvir para outra pessoa que não fosse ele. Dylan fechava os olhos. Estava desesperado. Não sabia como enfrentar tudo aquilo sozinho. Apenas sabia que tinha de fazer tudo para salvar o Tyler. Este não podia e não iria acabar da mesma forma que Delsin.

Agarrou na arma e colocou-a no bolso.