"Olá. Tu estás com uma azia do caraças, mas eu não estou menos. É lixado ter a certeza que somos melhor equipa do que o Schalke e vê-los a seguir rumo aos oitavos, mas, agora, o importante é percebermos o que é que podemos retirar deste jogo e desta participação na Champions. E para fazeres essa análise, tens duas hipóteses.
Amanhã, quando acordares, vais a correr comprar o jornal. Ou melhor, compra os três, senão não terás acesso a todo o cenário. Ah, e ouve todos os resumos nos blocos informativos da manhã. Vais ficar a saber que o Sporting falhou um objectivo. É verdade. Os mesmos que bateram palminhas a uma vergonhosa campanha europeia por parte dos nossos rivais, vão dizer-te que nós falhámos. Que a perda dos 3,5 milhões são um rude golpe na estratégia de Bruno de Carvalho (omitindo os 11 milhões arrecadados). Que deixaste de ter margem para ir ao mercado. Que, sem Champions, o Nani é gajo para forçar o regresso a Manchester. E que perdemos com um Chelsea de segunda (ignorando ostensivamente, que só o Diego Costa custa quase o dobro do nosso orçamento para o futebol). Provavelmente, alguém vai lembrar-se de dizer que o Esgaio errou e que isso espelha o declínio da nossa formação. Imagina tu, que haverá quem sem lembre de questionar o porquê de Marco Silva não ter lançado Geraldes (e quase arrisco dizer que esse alguém já terá afirmado que o Geraldes é uma merda). Vai regressar a conversa dos centrais, claro. A culpa disto é deles, com aquele falhanço na Eslovénia. E não se percebe porque raio o Paulo Oliveira não foi titular desde sempre (aposto que esta vai sair da boca de alguém que, ao fim de meia dúzia de jogos de pré-época afirmou que o gajo era um flop que só servia para o Guimarães). Para rematar, aposto um jantar em como não chegas ao final do dia sem ouvir dizer que este foi o princípio do fim de uma época e que vamos chegar ao final sem um único motivo para festejar.
Como no mundo tudo é feito de opções, amanhã, quando acordares, arranjas forma de limpar o resto da azia (diz que treinar é boa ideia). Tomas um pequeno almoço à maneira, espreitas a Tasca, sorris de forma irónica face às capas dos jornais. Vais andar todo o dia com o sentimento de quão injusto é ter ficado de fora dos oitavos. E de como poderíamos ter chegado ao jogo mais complicado do grupo com o apuramento garantido. Não há dúvida que devemos levar em linha de conta os erros próprios, mas a verdade é que este apuramento decide-se num erro nojento e propositado de arbitragem. Se a história o apagar, que nós não o deixemos cair em esquecimento.
Depois, recordarás o jogo de hoje algumas vezes. Voltarás a perguntar o que se passa com o William (que jogo medonho, ó Carvalho), recordarás a ingenuidade do Esgaio, lamentarás o jogo menos conseguido do João Mário e a ausência de Nani e ficarás com comichões face ao rotundo fracasso que foi a aposta em Capel (caramba, meu, parecia que tinhas 17 anos e que tinhas sido lançado às feras). Logo de seguida, recordarás que quem fez essa aposta, Marco Silva, foi o mesmo que voltou a mostrar uma excelente leitura de jogo e que voltou a passar a mensagem de compreender o que é o Sporting, não se encolhendo face à superior dimensão do opositor. Depois lembrarás a brutal defesa do Rui. E a cueca que o Montero pregou ao alemão. Irás sorrir, ao constatar que Paulo Oliveira é mesmo um enorme central. Que Jonathan tem um potencial tremendo. Que Adrien engoliu o esforço e a dedicação do lema que norteia a nossa forma de ser. E que Carrillo é mesmo um craque (independentemente de centenas de Sportinguistas continuarem a criticá-lo e a elogiar um argentino que joga do outro lado da estrada e que tem direito a capas com números… que fazem rir Carrillo).
Se pensares como eu, quando recordares que esta participação na Champions foi a primeira para 95% do plantel, vais perceber que estivemos à altura. E que será de todo injusto apontar o dedo aos nossos jogadores, afirmando que não honraram a nossa camisola. Não só honraram como, acredito sinceramente, cresceram dentro dela. Não duvido que tanto eles como a equipa técnica saiam mais maduros deste amargo de boca. Que é grande. Enorme. Porque ao longo desta fase de grupos, mostrámos ter qualidade para estar entre as dezasseis equipas apuradas. E fizemo-lo com um orçamento reduzido e com uma equipa à base de jogadores formados em nossa casa (ou, se preferires, fomos um grande de Portugal a jogar com portugueses)!
Que venha de lá a Liga Europa, para continuarmos a crescer dentro de campo. Porque fora dele, como hoje ficou demonstrado pelos 3500 Leões que se deslocaram a Stamford Bridge, estamos mais do que preparados para defrontar quem quer que seja!"