- Então…? – Perguntava Beelzebub, frente a Satan que acabara de acordar – Perdeste?

- Empate. – Respondia Satan, suspirando. Olhou à sua volta, num impulso. Ouvia um ruído estranho, mas não lhe apetecia ver o que era – E agora?

- Continuas a tentar. Todos os dias até ganhares. Se não ganhaste à primeira, então a partir de agora vai ser extremamente difícil conseguires. Lembra-te que qualquer aumento de poder que tenhas com esse corpo, ele também vai ter. São dois opostos com o mesmo poder, basicamente. Apenas inteligência vai-te permitir vencer. É melhor que comeces a preparar estratégias. Ou não, por mim tanto faz.

- Agora mandas em mim, é? Hmph. – Satan levantou-se e começou a voar, para fora do local. No dia seguinte, reuniu-se com Beelzebub no interior do palácio deste, numa área mais desconhecida do Inferno. Os dois entraram numa sala vazia onde Satan iria fazer a mesma coisa, lutar com Erik. Todos os dias durante dezasseis meses, Satan lutou com o alquimista louro. O resultado foi sempre o mesmo: um empate.

Satan começara a fartar-se de fazer sempre a mesma tarefa todos os dias. Todos os dias inventava novas estratégias e mesmo assim não conseguia ganhar ao seu oponente. Por vezes, chegava a combater mais que uma vez por dia para ver se surpreendia o alquimista. Mas Erik fazia a mesma coisa. Planeava estratégias e fazia simulações de combates na sua cabeça, caso contrário, iria perder para Satan e o universo estaria perdido.

Certo dia após empatar novamente. Satan abriu os olhos no meio da sala, como costume. Estava rodeado de soldados de Beelzebub. Satan levantou-se lentamente enquanto o pequeno exército de dezenas mirava com atenção o demónio – Então, finalmente fartou-se?

Após alguns segundos de silêncio, um dos adversários pronunciou-se: - O mestre Beelzebub ficou cansado deste acordo. Segundo ele, não é algo que possa produzir muitos benefícios. Ele tenta agora encontrar Lucifuge e fazer um acordo antes com ele.

- Hmph, o idiota pensa que o Lucifuge sabe a resposta? Está mais que enganado… Imagino, então, que estejam aqui para me matarem.

Precisamente. – Depois desta resposta, Satan esboçou um pequeno sorriso arrogante, pondo-se em posição de combate defensiva. Todos os cinquenta ou sessenta soldados na sala tinham um poder perto do de Satan, se não mesmo igual ou superior. Não iria sair fácil derrota-los, mas ele também não tinha isso em mente. Alguns poderiam considerar isso falta de orgulho, mas o próprio demónio sabe que não tem poder suficiente para os derrotar. O seu plano era criar uma distração para poder escapar o palácio de Beelzebub.

Contudo, enquanto planeava a sua maneira de escapar, os adversários adiantaram-se. Levantaram todos a mão e começaram a carregar pequenas esferas azuis de uma energia desconhecida. Apontaram em direção a Satan. O demónio rangeu os dentes e posicionou os seus braços à frente do corpo, como modo de se defender. Os soldados dispararam todos ao mesmo tempo. Todavia, Satan foi capaz de criar um escudo de energia antes de ser atingido com os blasts, conseguindo anular a maior parte do dano. Apesar disso, vários blasts ainda conseguiram passar o escudo depois deste ser destruído, atingindo o demónio no processo. Causaram-lhe algum dano, verificava-se algum desgaste na roupa e um bocado de sangue nas mãos e na testa, mas nada de demasiado grave.

O demónio do Reverse Kabbalah enervou-se. Activou o Godspeed e o Shinzo ao mesmo tempo. Com os dois power-ups ativos, estava duplamente mais forte agora. A alta velocidade, desaparecia e reaparecia em vários locais da sala, perfurando o corpo dos soldados que não conseguiam acompanhar a velocidade de Satan com Ice Picks. Contudo, não demorou muito para estar rodeado novamente.

- Grr…. – Desativou o Shinzo e começou a olhar à sua volta.

- Hmhmhmh.

Heh. – Esboçou outro sorriso convencido enquanto erguia os dois braços. Estes começaram a aumentar de tamanho, ficando com o dobro da massa muscular anterior. Com grande rapidez, espetou com dois poderosos socos no solo – NAIL GUN! – Houve uma onda de choque que ecoou pela sala inteira, como se fosse um pequeno terramoto. O solo quebrou-se quase instantaneamente, levantando uma enorme nuvem de poeira enquanto a sala tremia e partes do teto caiam. Satan aproveitou a sua oportunidade. Entre a confusão, abriu as mãos e posicionou-as paralelamente no solo. Um círculo surgiu debaixo dos seus pés, convertendo-se logo de seguida numa espécie de portal. O demónio foi engolido por este, desaparecendo.

O palácio inteiro de Beelzebub desmoronou-se devido à destruição da sala de treino. Como tal, os soldados agiram como se Satan se tivesse suicidado com o seu próprio ataque e trataram a missão como um sucesso.

O demónio tinha-se teletransportado para o planeta Filosofal. Estava agora num beco qualquer de uma cidade pouco habitada. Era de noite. A lua estava cheia e o negro céu estava coberto por estrelas resplandecentes. Satan metia a mão à cabeça enquanto pensava como iria vingar-se de Beelzebub pelo que ele tinha acabado de fazer. Fechou os olhos e mal os abriu, estava numa sala negra. Reconhecia-a. Era a mesma sala que Satan e Erik tinham combatido todos os dias, nada de diferente. À sua frente estava o alquimista, diferente do habitual. Tinha um olhar determinado na sua cara. Encontrava-se em posição de combate.

- Hm, porque é que estou aqui? Responde-me.

- Encontrei uma maneira de ser eu a iniciar o combate.

- Então aproveitaste aquela confusão e agora que estou magoado vais tentar vencer?

- … – Erik não precisou de responder. Satan estava correto, via-se isso com o olhar de cada um. Lançou um sorriso leve, desafiador, levantando logo depois a sua característica atitude séria. Satan fez o mesmo. Mirou o alquimista com atenção enquanto se posicionava de maneira defensiva.

Os dois desapareceram. Reapareceram logo de seguida várias vezes pela sala, trocando golpes que provocavam tremendas ondas de choque cujos tremores ecoavam pelo local de combate aparentemente infinito.

Erik e Satan ativaram o Godspeed ao mesmo tempo. Colidiram com dois Kugi Punches. Erik aproveitou para tentar atingir Satan no queixo com um uppercut. Porém, Satan bloqueia com o seu joelho e, de seguida, contra-ataca com um soco na cara de Erik que manda o alquimista projectado para longe.

A meio do ar, o Hawk rodopia o corpo e consegue aterrar de uma maneira segura. Sangrava já pela testa por causa do soco que acabara de receber. Este chegou a entrar-lhe nos olhos, dificultando-lhe um bocado a visão, mas não era nada de grave.

Activou o Shinzo e desapareceu, voltando a aparecer atrás de Satan: 5 REN KUGI PUNCH! – O alquimista disfere um potente soco nas costas do seu inimigo. Satan cospe sangue enquanto vê-se forçado a cair de joelhos no chão. Todavia, reage ao próximo ataque. Mal Erik tenta acertar no demónio com um pontapé, Satan utiliza o Supersonic Speed para se desviar e reaparecer umas dezenas de metros à frente. Erik não vacila. Com o Shinzo ainda ativo, voou na direção de Satan a velocidades tremendas.

O demónio do Reverse Kabbalah ativou, também, o Shinzo e, novamente, os dois opostos começaram a trocar golpes. Erik cria uma Gigawatt Blade e começa a movimentar o seu braço na horizontal, vertical e diagonal, tentando atingir o seu adversário a todo o custo. Satan movia o seu corpo de modo a se desviar mas as roupas eram cortadas e cortes na superfície da pele eram feitos, mas nada de grave.

Grrr. – Satan ergue os dois braços e trava a Gigawatt Blade de Erik que estava perigosamente perto de cortar a cabeça do demónio. Olhou para o alquimista. Ficou surpreendido pela reação deste. Erik esboçou um sorriso – Huh? – Na mão livre de Erik, o alquimista tinha uma Shock Grenade. Esta colou-se ao corpo de Satan, e não demorava muito para explodir.

O alquimista depois retira as mãos e concentra electricidade nelas. Lança uma Shockwave mesmo na barriga de Satan que lança o demónio a voar para longe. A meio do ar, a Shock Grenade explode-lhe na barriga, causando grande dano.
Erik olhava com atenção para o local da explosão, não ia baixar a guarda, sabia que um ataque assim não era suficiente para poder acabar com Satan. Entre o fumo provocado pela explosão, Satan demonstrava-se com relativos danos. Sangrava bastante pela boca, o sangue escorria-lhe até a roupa idêntica à de Erik. O casaco estava bastante rasgado e via-se ligeiros cortes no corpo inteiro, tendo ele também uma enorme queimadura do lado direito do corpo.

Erik, vais pagar por isso.

O alquimista não respondeu. Não se podia desconcentrar, sabia que podia ser agora que recuperava controlo do seu corpo. Teria que planear os seus próximos ataques na perfeição de modo a poder vencer esta batalha.
Satan ergue a mão direita e cria uma Electric Tether, uma corda eléctrica. Lança-a na direção do Hawk, prendendo-lhe a cintura. Lançou um Narukami pela corrente. A electricidade rapidamente chegou ao corpo de Erik, começando a eletrocutá-lo. O alquimista não sentia a dor, por isso, ergue os braços e usa o Static Thrusters, emitindo electricidade pelas mãos para se projectar para longe. Satan começou a puxar a corrente onde Erik estava preso, continuando a emitir Narukamis. Os dois estavam a um impasse, mas o alquimista sabia que o seu corpo poderia parar de funcionar a qualquer altura.

Eis que Erik teve uma ideia. Utilizou uma das muitas técnicas a seu dispor: o Electric Drain. Absorveu a electricidade da Eletric Tether e dos Narukamis por completo. Ficou rodeado de vários raios azuis. Não perdeu tempo. Levantou os braços e expeliu electricidade a uma velocidade alarmante. Os Static Thrusters propeliram o alquimista em direção ao seu adversário. Por cima dele, desativa e emissão de raios e deixa-se cair. Enquanto caia do céu, absorve a energia presente nos electrões. Com o impulso da queda e da electricidade reunida, cai por cima de Satan e executa um Thunder Drop mesmo por cima do seu oponente. O demónio cruza os braços para tentar diminuir o dano, mas isso de pouco serviu. O forte ataque conseguiu partir os ossos do braço direito do corpo temporário de Satan.

GH-GAAAAAAH! – Gritando em dor, salta para trás. Mas Erik não tinha saído em perfeição daquele confronto. Tinha alguns dedos partidos e as suas pernas estavam num estado terrível depois de uma queda assim, já não conseguia correr, mas ainda tinha energia pa dar pequenos e precisos passos.

O alquimista decidiu usar o seu trunfo. Uma técnica que treinara durante o tempo todo que esteve preso dentro do seu próprio subconsciente. Activou o Shinzo. Com o sangue a ser bombeado a uma velocidade maior que o normal, vapor começou a sair do corpo de Erik. De certa forma, isto até ajudava um bocado para a técnica. O alquimista reuniu as suas duas mãos atrás das costas. Uma esfera azul de electricidade começou a reunir-se lá. Os raios eram mais intensos que o normal. Muitos deles dispersavam-se pelo ar, chegando mesmo a atingir Satan. Este não se conseguia aproximar. A electricidade azul emitia uma luz que iluminava a maior parte da negra sala estranha. Via-se Erik com um ar mais sério que o normal. Estava determinado, ambicioso, firme. A esfera lentamente aumentava em tamanho enquanto o vapor se dispersava à medida que saía do corpo do alquimista. Esticou as pernas e girou uma vez, a uma rapidez enorme, lançando logo depois o seu ataque: IONIC STORM! – Um tornado surgiu do vento provocado pela rapidez do movimento que acabara de ser feito. Este ciclone fora, também, envolvido pela electricidade criada na pequena esfera que Erik criara.
Sem chance para reagir,  Satan é engolido pelo tornado, sendo eletrocutado a potências eléctricas enormes enquanto gritava em dor. Quando o ataque terminou, o demónio caiu no chão, com o seu corpo bastante queimado. Ainda estava vivo, mas inconsciente. Erik tentou dar um passo para matar Satan, mas viu-se incapaz de mover, desmaiando segundos após o ataque terminar.

Acordou horas mais tarde, no mesmo beco onde invocara Satan para o combate. O seu cabelo estava agora negro dos lados, e não completamente loiro. Levantou-se. Não sentia a dor, mas os danos da batalha estavam presentes no corpo. Tinha os dedos e partes dos ossos das pernas partidos. Denotou isso quando tentou caminhar e viu que coxeava.

Felizmente para o Hawk, reconhecia o sítio onde estava. Provavelmente coincidência, mas Satan tinha-se teletransportado para a cidade onde Erik viveu a maior parte da sua vida: com o homem que lhe ensinou alquimia, Paul Phoenix.
Após uma hora de caminhar, Erik encontrava-se agora no exterior da cidade. À sua frente tinha um bosque bastante denso. Já tinham passado vários anos, mas o alquimista estava confiante de que se lembrava do caminho. Teve que subir em altitude durante cerca de meia hora até encontrar uma isolada casa de madeira de tamanho médio. Parou para apreciar a habitação e se lembrar da sua infância, dos bons e dos maus momentos. Após uns segundos, deu um passo em frente mas foi interrompido pela abertura da porta. De lá, saiu um homem. Parecia ter cerca de 45 ou 50 anos. Tirou um cigarro do bolso e começou a fumar.

… Paul.

Erik. – Paul Phoenix não falou mais. Simplesmente entrou na sua cabana, deixando a porta aberta, como se fosse um convite para o alquimista entrar. Erik percebeu e assim o fez.

Fechou a porta e sentou-se numa mesa perto da entrada. Paul trouxe um café para ambos e sentou-se. O silêncio instalou-se durante algum tempo – … A Marle? – Erik perguntou. Paul não respondeu. Erik não persistiu, a resposta era óbvia, já devia ter morrido. O mestre de Erik reparou nos danos que o alquimista tinha. Levantou-se e foi buscar um kit de primeiros socorros para o alquimista. Deixou-o em cima da mesa enquanto se aproximava das escadas.

… – Parou em frente – .. Erik?

Huh?

Bem vindo de volta.